20.11.10

A história da menina que tinha medo de morrer de forma idiota 2

(Continuando...)

É a famosa sinuca de bico! Se correr o bicho pega! Se ficar o bicho come!
Foi para casa. Escreveu um testamento, dava destino a cada uma de suas obras de arte, cada um de seus desenhos, a seu computador, a seus DVDs e dava uma série de recomendações a seu pai sobre o cuidado com a casa e com a cachorra.
Ideia! Sentou e começou a desenhar. Afinal, o que poderia acontecer se ela não saisse do seu quarto a semana inteira? Pois então ficou ali.
Foram horas ininterruptas. Tentava não pensar, mas quando era quase onze da noite foi olhar para o que já tinha feito. Morte, morte, morte. Diversos personagens seus estavam morrendo de forma estranha! Desesperou-se! Solto um "ahhh" angustiado, pôs as mãos no rosto, deles ao cabelo, sacudiu a cabeça e levantou jogando longe a cadeira. Maldita! Como isso podia ter acontecido? Socou a parede! Então viu os desenhos, de canto de olho, no chão. Pegou de volta a cadeira e voltou a desenhar. Afinal, outras coisas também poderiam acontecer, de forma tão bizarra quanto, a ponto de salva-la daquelas situações!
Seu lápis e sua borracha correram de forma tensa, intensa. Eram múltiplas formas! Em cerca de vinte minutos já havia desenhado várias delas. Olhou para tudo. Estava horrível! Vários traços mal feitos, apagados falhos, proporções ruins, falta de sombras, falta de cores.
Onze e vinte!
Tinha mais 40 minutos de segurança! Ainda dava tempo de terminar! Pegou aqueles desenhos e foi para fora! A pé jamais chegaria a tempo. Estava perdida! Não sabe mais dirigir, não sabe se achar. Sentou e chorou. Onze e trinta e cinco. Tinha que se despedir! Poderia morrer, mas não sem ao menos vê-lo uma última vez! Assim não poderia. Saltou, pegou a chaves do carro e saiu. Quando deu-se conta estava a 140 quilômetros por hora. Avenida vazia!
Onze e cinqüenta parou na frente da casa dele. Nem sabe qual caminho fez. Não o faria de novo! Só estava lá. Bateu à porta nervosamente. Alguém apareceu à janela. Pouco tempo depois a luz se acendeu e ele apareceu, com um sorriso, cara amassada de sono e olhos de quem não está entendendo nada.
Ela o abraçou com força! Ele a puxou para dentro de casa e fechou a porta. Ela o beijou longamente. Era impossível magoa-lo! Não seria capaz de falar nada. Ele a sentou no sofá.
- O que está acontecendo? O que houve?
Meri ficou sentada olhando para ele. Incapaz de dizer qualquer coisa. De repente veio a voz ácida de um amigo seu:
- Idiota! Ele vai sofrer mais com você morta do que com você viva!
- Você tem razão... - disse tristemente.
- Tenho? Do que?
- Ahn? Disse isso em voz alta?
- É... disse... Você está muito estranha! O que quer me falar?
- Eu?
- Não... o padre! - respondeu fazendo uma careta e rindo.
Ela não riu. Ele fechou a cara. Normalmente riria.
- É... desculpa.
- Não tem nada. É que eu to com um problema.
- Me fala.
O relógio começou a badalar a meia noite. Uma, duas, três...
- Terminar - disse com a voz fraca
Quarta, quinta...
- O que?
- Eu preciso...
Sétima, oitava...
- Com...
COVARDE! - Gritou tão alto uma voz em sua cabeça que ela até tampou os ouvidos!
- O que?
Décima.
- É...
Décima-segunda.
- Nada. Desculpa. O problema está resolvido.
- Ahn?
- Nada! Já disse! Vai dormir. Te amo!
Ela o beijou intensamente e saiu. Ele ficou parado, sentado, tentando entender o que se passava.
Meri, foi para o carro de cabeça baixa. Arrasada. Passa um caminhão. Ela abriu a porta do carro e ouvi uma forte batida contra o vidro da janela, trincando o mesmo, no exato momento em que estava abaixada para sentar. Uma pedra foi espirrada pela roda do caminhão, rota, sua cabeça.
Entrou e fechou a porta. Pânico! Estava começando! Mas como tinha sobrevivido? Respirava rápido. Lembrava dessa cena... Seus desenhos! Pegou os papéis dobrados que estavam em seu casaco. O carro foi ficando quente e foi sendo tomada por uma sensação de falta de ar. Abriu-os e enquanto os folheava os papéis, instintivamente abaixou o vidro. Uma golfada de ar levou uma das folhas para fora do carro. Saiu correndo para pega-la. E no segundo seguinte um carro esporte, vermelho, em alta velocidade bateu na traseira do seu e capotou sobre ele.
O desenho voava pela rua e ela estava de pé, em choque, ao lado de um pilha de veículos que não chegava à sua altura. Sua mão ainda tentava pegar a porta, agora já alguns metros à frente, para fechá-la.
A folha pousou na calçada do outro lado da rua. Meri olhou para um lado, para o outro, atrassou correndo. Pegou a folha. Nela estava retratada exatamente essa cena após o desenho dela sendo esmagada dentro de um carro parado, por outro carro.
As luzes das casas da rua se acenderam. Ela a desceu rapidamente, sumindo de olhares curiosos.

Então... ainda continua...
Vamos seguindo assim?

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