Aquelas dunas já são mais antigas. Estão ali desde a sua meninice. Raras vezes ia de Jijoca até lá quando era criança. Agora vai todo dia. Vender coco, água, cerveja, refrigerante dão mais dinheiro e são mais interessantes do que caçar caranguejo no mangue.
Enquanto sobe a duna velozmente, lembra do quanto já teve a mão pega pelas patolas dos caranguejos. Vez por outra infeccionava. Também não queria que seus filhos crescessem na lama. Lama suja. Lama pobre. Lama de fome. Lama burra.
Um monte de gente estranha. Todos vem de longe. Alguns de muito longe. Gringos, é como os chamam. Um paulista uma vez o ensinou a falar algumas palavras em inglês. Ajudou demais. Agora até inglês falava!
Quatro horas da tarde quando começa a atravessar aquelas dunas. Dunas que são antigas. Dunas que já tem um mato, uma grama. E muitos espinhos. Lembra algum cenário desértico. Se fossem apenas os cactos estava bom, mas mesmo essa grama tinha espinhos. E ele sobe as dunas descalso! Não é um espanto? Simplesmente ignora a agressividade da natureza.
Sobe acompanhando uma manada de turistas. Branquelos. Com suas máquinas fotográficas poderosas. Chinelos. Tênis? Ainda assim mal conseguem subir, chegam ao topo esbaforidos. E depois, descem quase rolando. Chapéus e protetores solares. No fim da tarde?
Eles estão suando. Quase não suportam o calor e o sol, mesmo com o vento forte refrescando as sensações.
Já ele sobe pisando em espinhos, descalço. Face inalterada. O esforço da subida não muda sua expressão, tão pouco o fato de estar carrendo uma geladeira de isopor carregada de bebidas e gelo. E o sol? Aquele grande disco dourado. A estrela principal dos finais de tarde por ali. Para ele é um ator. Os turistas os coadjuvantes. Ele o espectador.
Pára junto à pedra furada. Não sabe o que os turistas veem de tão espetacular nela. Uma pedra. Em formato peculiar, é verdade. Mas uma pedra, como todas as outras que ali estão. Milhares delas. De toda forma é uma composição espetacular. E naquele meio ele transita leve, desapercebidamente. Suavemente oferece suas bebidas aos turistas. É a hora de ganhar o pão das crianças, cobra o dobro mesmo e todos eles têm dinheiro para pagar. De toda forma, não lhe cabe estragar a paisagem. Fica ao canto.
Hora de subir. Nos últimos minutos o vento fica mais forte na beira-mar. A areia machuca a frágil pele daquelas pessoas. Além disso o espetáculo é mais grandioso lá de cima.
É tudo por aquele momento. O sol causticante vai descendo. O mar o aguarda ansioso. Será sua morada pelas próximas 12 horas. Não é mais hora de vender cerveja. É hora de sentar e admirar. Senta em uma pedra, dobra as pernas expondo a grossíssima sola de seus pés. Um casco. Hipnotiza-se por alguns momentos. O verde azulado do mar, o laranja crepuscular, o azul-negro do céu.
Quando sai do transe percebe que quase todos já foram.
"Ei! Esperem! Nem esperam o sol se pôr!" Mas ele já se foi diriam alguns. E pensaram assim, aquela manada toda. Ele não. Ele sabe. Senta e espera. Como que por mágica o céu é inteiro pintado. São dezenas de tons de amarelo, laranja, vermelho e azul. Turistas burros.
Pacto refeito. Reverencia a natureza, ela recebe turistas tolos e estes dão-lhe o pão.
Fantástico!!!
ResponderExcluirAdorei...leitura prazerosa!!
Pude visualizar cada cena descrita e viajarrrr....
Beijão,amigo!
Vc faz falta...
Ivana!
Tô adorando seus escritos, Bru!!
ResponderExcluirObrigado queridas!!!
ResponderExcluirSaudades das duas!
Beijos