27.8.10

Tantas coisas a escrever. Relatórios e mais relatórios. São tantas contas a prestar a tanta gente. O mestrado caminha a passos de tartaruga. E as histórias vão se acumulando em algum lugar. Por hora vamos a cenas... cenas que são histórias, quem sabe histórias em algum momento se concatenem.



Carro. Carro. Carro. Tec. Todos andam. Tec. Alguns param, outros não. Tec. Todos param. Algum não pára. Eventualmente ocorre a colisão. Alguns metros às minhas costas. Tédio, nunca vejo.
O menino chega com uma caixa de bala. O cego com o chapéu. O rapaz com uma toalhinha encardida. Todos sobre os carros tentando conseguir algum dinheiro. Toda a existência é praticamente a mesma coisa. Vez por outra tem algum evento extraordinário.
Noite. A lua mal ilumina. Homem cabaleia. A calçada é estreita. Roupas sujas. Um pouco rasgadas. Choro. Ela abaixa, fica de cócoras. Soluça. Anda tropeçando.
A moça levanta o vidro. Medo. Outro já acelera, deseprezo. Tec. Todos saem apressados. Medo. Alguns cantam pneus.
Silêncio. Apenas soluços. Cambaleios erráticos ao meio da rua. Sofrimento intenso? Passos insuportáveis. Ele cai, bem abaixo de mim. Tec. Um carro vindo. O homem estirado ao chão. Tec. A tempo.
O sujeito está sob o parachoque.
Gemidos. Soluços. Ele se apóia na roda. Ergue-se. Corpo quebrado. Sujo. Rosto lavado em lágrimas de dor.
Um senhor no automóvel. Ao celular. Um grito.
- Ah! Filha da puta!
Fecha o vidro. Rápido. Avança sobre o infeliz. Tec.
- Polícia! Assalto! Socorro!
Outros carros continuam. Olhares assustados. Movimentos bruscos. Correria atrás de mim.
- Vagabundo! Desgraçado!
O carro parte estridente. O homem fica jogado ao chão. Quase atropelado.
Um rapaz chega correndo. É quadrado. Farda engomada. Ombros largos. Pernas grossas. Cabeça quadrada. Nenhum cabelo. Pára a alguns metros do infeliz. Saca uma pistola. Segura com uma mão. Apóia na outra. Joelhos dobrados.
- Parado! Mostre as mãos! Vamos!! Mostre as mãos! Deita no chão!
Mas ele já estava caído. Mãos? Mal tinha corpo.
O policial avança sobre ele. Ligeiros e precisos movimentos. O corpo balanceia. Gira. Torce. De repente braços para trás. Algemas nos punhos.
- Macedo!
Grita alguém.
- Põe esse vagabundo na viatura logo!
O policial segura na corrente. Um segundo. O homem está de pé. Empurrão. As pernas alternam. Mecânicas. Somem abaixo. Um gemido. Portas batem. Pneus cantam.
O que será do infeliz agora?
Tec. Carro. Carro. Carro.

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