Estavam os quatro jovens ali, comemorando. Não vem bem ao caso o que, não é disso que se trata. Fato foi que foram a um mercado, compraram uma bebida forte e barata, sentaram naquelas cadeiras de ferro, pintadas em branco, com diversos pontos de ferrugem, assim como a mesa. Pediram uma porção de torresmo. Não podia ter cardápio mais insalubre. E estavam os quatro ali bebemorando algo.
Dois homens, um com cabelos compridos lisos, densos, ásperos, rosto oval, porte atlético com uma pequena barriga. O outro mais alto, cabelos não tão compridos, mais volumosos, ameaçando cachear. Ambos riam soltamente. Duas mulheres, da mesma altura, ou próximas. Uma de cabelos muito longos, muito cacheados, de roupas tão fechadas quanto sua risada contagiava e ecoava no ar. Tantos gargalhos por causa da quarta personagem. A moça de rabo de cavalo, castanho, sem dúvida não era sedentária, mas talvez os risos que provocava que a mantinham em forma também!
Ela falava alto, articuladamente. Piadas? Não! Histórias! Sempre inéditas, construídas ali, na hora. Sem dúvida que já tinham seus construtos pré-prontos, mas qual incorporava naquela noite era peculiar! Uma sátira histórica, um francês, judeu, de educação nazista. Não era falta de respeito com a história ou com o sofrimento alheio, apenas a expressão de uma mente criativa em uma cena inusitada.
- No sê o que facer – dizia – Mamã e judii, papá e nascista! Malllditos nascitas! Malllditos rudeus!!
Enquanto as reflexões daquele ser em crise se desenrolavam, o assunto chamava a atenção da mesa ao lado. Um homem negro, não lembro muito bem dele, porque em certo momento ele desapareceu e não teve influência nenhuma no que se desenrolou em seguida. Uma mulher, deveria ter seus trinta e tantos anos, já estava bêbada, conversava já desarticuladamente. Não havia ninguém sóbrio naquele lugar? Franzina, cabelos curtos, face emagrecida. Olhos negros perdidos que passaram a fintar aquele grupo inusitado conversando. Seria impossível sequer supor o que se passava naquela mente alcoolicamente transtornada.
De repente ela se levanta, caminha lentamente para a mesa ao lado, abaixa-se de cócoras à quina da mesa, entre duas das cadeiras. O grupo silencia. Ela põe a mão na mesa, apoia o queixo fino na mão magra, acena um sim com a cabeça e erguendo do dedo indicador direito diz, vagarosamente:
- Vocês estão falando da minha vida... - fica em silêncio um tempo. Acena outro sim com a cabeça e repete: - Vocês estão falando da minha vida.
Põe a mão no queixo e a retira com força, levantando em seguida e voltando ao seu próprio copo, na mesa ao lado. Os quatro se entreolharam, levantaram sombrancelhas, viraram mãos, com faces de “o que foi isso?” e girando os dedos na cabeça, como quem diziam “louca coitada!” Um dos rapazes acena desdém e eles continuam a conversa totalmente non sense.
Então, finalmente, o álcool acabou, a porção de torresmo acabou, sendo o dinheiro suficiente apenas para pagá-la. Os quatro devidamente bêbados, diriam que teria sido festa digna, extremamente divertida! O rapaz dos cabelos lisos recolheu as moedas e foi pagar o aperitivo. Assisti de camarote! A moça magra levantou-se de um salto e chutou o bunda deste moço quando o mesmo voltava a seus amigos. Não pareceu ter doído, mas ele virou-se totalmente sem reação, sem entender o que estava acontecendo, etilicamente letárgico. Os três companheiros de copo levantaram-se. A mulher gritava:
- Rapa da minha área! RAPA DA MINHA ÁREA!
A moça de rabo-de-cavalo foi confrontá-la.
- Que foi? Essa praça não é sua não!
- Filha da puta!
- Filha da puta é (pausa) a SENHORA!
Singular! O rapaz de cabelo-quase-cacheado interpôs-se entre ambas no momento em que iriam começar a se bater. Com a mão no tórax de cada uma via as duas debaterem-se em palavrões! Uma com um linguajar repleto de gírias, a outra quase formal. Enquanto isso a outra moça estava no chão, sentada, rindo tanto que simplesmente não conseguia reagir a nada. Quase rolava de rir. O chutado fazia posições marciais, embriagado demais para tomar alguma atitude! A cena surreal pareceu durar uns 5 minutos!
- Vagabunda!!
- Vagabunda é a senhora TUA MÃE! Deixa ela comigo! Vou te quebrar!!!
- Cara, tira as meninas daqui!!
- U! Uh!
- CARA! Se mexe PORRA!
- U! Uh!
- FILHA DA PUTA!
- Levanta sua loca!
- (gargalhadas) Nã...o com...sigo... (gargalhadas). Minha... barrrrriga dóóóiiii (gargalhadas)
Quatro ou cinco outras pessoas assistiam perplexas, igualmente imóveis!
A distância entre as duas combatentes já era quase nula, quando finalmente chegou uma senhora e carregou a magra embora. Ninguém viu para onde. A cena destencionou-se de súbito, os quatro gritavam uns com os outros e davam risadas.
- O que foi isso?
- O que foi isso?
Sentindo o momento mais tranquilo foram rápido para o carro. Pareciam levemente assustados apesar da comicidade da situação. Um pressionava para que os outros agilizassem-se. Quando estavam entrando no carro a mulher aparece novamente. Na janela de uma casa ao lado da praça. Parecia um leão enjaulado. Eles entraram como um raio no carro e sumiram!
e viva o alcool! lendo assim reforça ainda mais na minha cabeça q eu estava lá ;D
ResponderExcluirQuem não estava?? ;-)
ResponderExcluirEita, agora por escrito, em? huahuahua mas vc omitiu minha única fala da história, mau vc T_T huahuahua bom texto,^^ embora eu ache a versão falada mais interessante, principalmente quando vc se agacha no canto da mesa de onde quer q esteja p encenar huahuahua
ResponderExcluirEu num lembro!!! Qual foi!! Fala pra mim que já reparo esse erro!!! hehehehe
ResponderExcluirAdorei o chutado fazendo posições marciais!!!!
ResponderExcluirG-A-R-G-A-L-H-E-I!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Fantástico!Bom texto...É uma história FILHA DA PUTA MESMO!!!! hehehe!
Beijos!
IVANA!
Aiii hauuhauhauha Brunilds, só vc mesmo pra escrever isso tão bem, a "quarta personagem" deu muita gargalhada aqui! Vai escrever sobre o frango verde tb? hauahuuha É otimo isso, vai me poupar trabalho na hora de explicar estas histórias pra Na, hauuhauhauhahua
ResponderExcluirBjaum! parabéns pelo blog!