8.10.10

Desconfiança do Vazio

bom... semana muitíssimo conturbada, indo de excesso de trabalho até destruição de um teclado de R$300,00!!! É de chorar!!



Não sei porque justamente eu tinha que ir àquele lugar. Ele é estranho. Dizem que mal-assombrado. Isso é uma bobagem, mas é verdade que paira algo muito anormal ali. Passei com o táxi na frente pela manhã. Que imagem! Um prédio com altura para uns 4 ou 5 andares, mas parecia ter apenas dois. Seis pavilhões interligados pelo o que parecia ser um corredor. Fachada de construção antiga, pintura velha, desgastada, manchada, mal-cuidada. Na frente um comprido jardim, com grama e um ou outro arbusto. Nenhuma pessoa. Vazio. De fora só é possível ver o guarda que regula a entrada de carros, mais ninguém.
Teria que levar o documento para lá pela tarde. Passei o dia pensando naquele lugar. Nas pessoas que lá estavam internadas. Como seriam? Loucas, é o que dizem. Devem até ser perigosas! Para ficarem trancadas assim... Nunca conheci alguém que tenha trabalhado em um lugar assim, ou sido internado. Será que alguém sai de lá?
Almocei distraído. Sem perceber direito o que comia. João estava comigo.
- Bah, onde tu tá hoje?
- Perdido... tenho que levar um documento naquele hospital
- O de gente doida?
- Esse...
- Bah...
- O quê?
- Eu não iria lá não.
- Ahn? Por quê?
- Tchê! Parece que não sabe! Tem uns guris perigosos por lá! Doidos! E se eles resolvem te pegar?
- Quem resolve me pegar? Tu que tá louco!
- Os doidinhos ué!
- Eles ficam trancados lá?
- Não sei! Talvez seja o mais seguro a fazer!
- Mas aí como é que melhora trancado?
- E tem jeito de melhorar?
- Deve ter né! Ninguém fica doente o resto da vida!
- Diz que o avô da minha vizinha morreu doente assim! Diz que via coisas, que batia nos guris, chegou a sair pelado na rua...
- Que triste.
- Ah! Acho que nem sofre tanto assim não! Eles nem sabem o que estão fazendo!
- Talvez.
- Enfim, eu não iria e se eu fosse você, menos ainda!
- Por quê?
- Vai que os médicos resolvem te prender lá dentro também!
- Pára!
- Sabe que a diferença entre o médico e o paciente desses lugares é só quem é o dono da chave né?
- Porra, só vou entregar um documento e sair. Não tem erro!
- Boa sorte.
O tom fúnebre do "boa sorte" foi irritante demais! Fui embora calado. E agora? É... porque não tem jeito! As coisas que aquele infeliz falaram ficaram se rebatendo na minha cabeça! Ser perseguido. Apanhar. Ser preso.
Entrei no carro. Olhar estatelado para o volante. Nem saberia dizer quanto tempo fiquei ali perdido em pensamentos. Pensamentos perdidos.
Tentei ligar para a causadora de tudo isso. Aquela que pediu-me esse favor a quem gentilmente cedi. O que um homem não faz por uma merda de par de olhos azuis e uma voz carinhosa? Impressionante como os celulares ficam convenientemente desligados ou fora de área em momentos estratégicos!
Cheguei pelo outro lado da avenida. Tem um córrego entre as pistas. Uma lanchonete de frente ao hospital. Que lugar mórbido para se comer. Parei ali, pedi uma garrafa de cerveja. Parece que eu precisava tomar coragem. Doidos, loucos, preso, ficar preso. Violência. A garrafa secou em dois tempos. Secou. Precisava resolver logo esse assunto. Quanto mais demorava, mais dinheiro perdia. É isso! Paguei a conta, manobrei o carro e fui obstinado à guarita.
- Preciso entregar um documento. Posso entrar com o carro?
- Pode.
Guarda gordinho. Olhou-me de esgueio. Desconfiado. Abriu a cancela como se olhasse para o nada. Entrei, parei o carro em uma vaga perto da entrada. Silêncio.
Janelas um pouco opacas. Ninguém nelas. Grana verdejante, brilhante. Ninguém nela. Mesmo os passarinhos estavam muito calados. Uma porta grande, pesada, alta, toda decorada com vitrais, mas com o verniz e a pintura bastante gastos. Foi preciso algum esforço para abri-la. Um corredor, branco, corredores transversais, brancos. Ninguém ali. Onde estão todos?

(continua...)

5 comentários:

  1. Bru! Tô amando descobrir essa sua nova faceta, de escritor de contos!!!!
    =D

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  2. Opa , por aqui esperando a continuação do conto .
    ;)

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  3. "uma merda de par de olhos azuis e uma voz carinhosa?"... esse foi o momento mais fúnebre do texto pra mim!

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  4. Caras amigas, desculpa fazê-las esperar pela continuação.. vida real batendo na porta. Zilhão de trabalhos e demandas atrapalhando a concentração.

    Se vc tem olhos azuis, pode ser que a frase tenha sido fúnebre pra vc mesmo. Isso é o texto, a cada um toca como "lhe convém". Lembre-se apenas que é o personagem falando e não eu.

    Beijos

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  5. quanto ao meu comentario, palavra chave: ciúmes

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