Faz um ano!
Um ano que ele se foi!
Prometi que seria mais forte! Que em um ano estaria preparado! Pronto para enfrentar qualquer coisa, pronto para desafiar a morte. Abrir-lhe o peito e dizer: pode vir que daqui você não passa!
Mas ao invés de enfrenta-la, tornei-me amigo da morte. Parceiro. De tempos em tempos ela faz uma visita. Ou leva alguém ou simplesmente assombra sonhos perdidos de madrugadas úmidas. Úmidas porque inevitavelmente acordo suando. Ela vem, diz um olá, afronta-me, assevera: comigo você não pode, e se vai.
Eu sei!
Eu prometi!
NÃO! Você não pode cobrar-me dessa maneira!
Saia das minhas costas! Tire suas mãos gélidas de meus ombros e suas más intenções de meus ouvidos!
NÃO! Eu não quero te ouvir!
Eu sei do buraco escuro ao qual você está me conduzindo!
Sim, é o mesmo no qual você se foi, de intestino embrulhado, de pés enredados!
SAIA!
Mas eu prometi e de uma promessa você não se livra tão facilmente! Eu sei...
Está aqui cobrando sua dívida.
Eu entendo!
Mas veja bem! As coisas não são tão fáceis assim! O ano se passou tão rapidamente...
Eu sei... é sempre atribulado, sempre confuso... Você me pega no contrapé mesmo! Não tenho o que dizer, você está absolutamente certo! São meras desculpas para aplacar minha consciência frágil e derrotada de antemão!
...
Mas o que poderia eu fazer? Fazer viver aos socos? Isso só acontece em filmes! A água turva não permitiria achar-te a tempo... sim... tão pouco a opacidade da minha coragem...
Da morte nada é possível arrancar! Ela me disse! Ela me confessou que é pura decomposição! Dela mesma nada pode sair.
É certo que também me confessou que se adianta em seu tempo... motivos não lhe faltam! Fique feliz enquanto está escapando de seu inescrupuloso olhar! Aos que se esquivam só resta entender o inevitável movimento da vida. Coisas precisam se desfazer para que outras se façam. Cada coisa dura. E cada coisa resiste. Resiste pendurada em tênues linhas de nylon, invisíveis, intangíveis, elásticas... mas se rompidas... adeus! E sempre são rompidas a fogo!
Já estou tartamudeando... essa conversa acaba comigo... acaba com meu ar. Posso senti-lo respirando a minha parte de oxigênio, tentando compensar o que faltou-lhe. Do mesmo jeito que ainda posso sentir minhas pernas paralisadas pelas dúvida e pela covardia.
Mas agora chega! Já passou o seu tempo! Vá-se daqui! Inútil dizer para não voltar... mas dê-me mais um ano para pagar essa dívida... quem sabe em um ano aplaque sua fúria agiota.
Por hora satisfaça-se com isso e dê-me algumas noites de sono tranquilo antes que nossa amiga volte a visitar-me...
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