Inusitadas
coisas podem acontecer em um dia de testes. Ideias sendo postas à prova. Sim,
talvez mais ideias do que conhecimentos. Propostas, projetos. Questões… É… nada
fácil.
Aquele foi
um dia destes. Um desafio. O dia começa ansioso, tenso. Ansiedade e tensão que
provocam cegueira…
Os quatro
começaram a arrumar confusões logo cedo. Mal o sol tinha nascido, um céu azul,
a perfeita definição da cor azul celeste, o horizonte com seus amarelos de tom
pastel, e ele já estava se arrumando, era necessário atravessar a cidade, para
começo de conversa. Para sua surpresa nunca foi tão rápido, com cada segundo
tão longo, fazer tal travessia.
Encontrou
com as duas. Alguns biscoitos em agitação exponencial! Os preparativos ainda
eram muitos e deveras trabalhosos! Saíram em busca da quarta. Algo estranho já
se anunciava quando chegaram na casa desta, sempre tão pontual, dessa vez ainda
atrapalhada. A de crespos cabelos ficou para ajudá-la, enquanto os outros dois
prosseguiam com a missão.
Seriam necessários
grandes tapumes de madeira que receberiam as impressões e as expressões de
quatro vidas coletivas! Nesses ânimos exaltados os planos podem ser
dimensionados de uma maneira disforme. Porque mesmo acharam que as tais
madeiras caberiam no carro? Generosamente, sob um olhar de pânico, um carro
novo, impecável, foi oferecido para carregar aquele material… o tempo passava…
Diante da
delicada situação, o pintor se ofereceu. Seu Scort ano 80 e pedrinha daria
conta do recado, estava acostumado a carregar coisas maiores e mais pesadas. O
tempo passando… monta suporte… parafusa… o tempo passando… apóia, amarra…
jornal… sacola… o tempo passando…
Enquanto
isso, em mãos tensas, um copo estilhaçava em outro canto do bairro…
O tempo
passando…
Cadê a
chave? Serelepe esse saci, que some com as coisas em momentos de tal
delicadeza!
Chave
encontrada, partem já atrasados. Carro velho, rodando lentamente pelo asfalto,
o tempo passando…
Enquanto
isso… noutro canto do bairro, pernas bambeiam sobre o desnível territorial de
calçada mal assentada! Chão! Tocos de árvores ressequidas rasgando a carne,
afastando o quer que impedisse a rota do nariz ao chão!
E então o
carro velho faz a curva e seu perspicaz e prestativo motorista imediatamente
nota a senhora ensangüentada na esquina!
“Nossa! Ela
está sangrando!”
“Ahn?”
“Quem?”
“Vamos
socorrer!”
“Ahn?”
“Ok...?”
Ele
rapidamente dá a volta no carro. Manobra ousada para quem vinha tão lentamente
circulando… A senhora estava lá, na esquina, os dois mal notaram, desorientada…
“Senhora!
Está tudo bem? Quer ir pro hospital?”
“É… quero…
aquele lá… tenho convênio…”
O rapaz dá
espaço a ela no banco da frente. O motorista faz mais uma volta radical e
parte, na maior velocidade que o carro agüenta, para o tal hospital. Em meio a
saltos do carro e estouros de escapamento, a sensação de que o veículo
desmontaria na próxima esquina, o tempo voando, perguntas de “como a senhora
está”, mãos dadas apertadas, confusas, sem saber o que pensar, mas pensando, em
uníssono, “com a gente tem que ser na intensidade! Não acredito! Estamos
fudidos!” As mãos não se descolaram mais…
A senhora
foi deixada na entrada da emergência do Pronto Socorro, já sendo atendida por
alguém da enfermagem.
Tapumes
balançando… “esse escapamento vai cair?”
Tempo
voando…
“Sabem, eu
tenho diabetes, já até desmaiei algumas vezes… Não posso com sangue!”
E os
passageiros pensam: “Ah! Meu Deus!”, “Só falta ele desmaiar agora”
“Até teve
uma vez que me tiraram de cima de um barracão na corda, porque desmaiei lá em
cima!”
“Porque eles
está contando isso pra gente agora?”
“Ai! Ele Vai
desmaiar!”
Mas não, finalmente
a faculdade, sem desmaios. O tal pintor ainda se ofereceu a ajudar a carregar o
material. Não foi necessário. A tensão fez seu trabalho e três franguinhos
subiram com as duas pesadas peças.
Um soco caiu
no estômago dos dois enquanto terminavam os preparativos. Não por qualquer
moralismo babaca, mas pela sensação de que, enquanto cidadãos e trabalhadores
de saúde, quase não cumpriram com seus arraigados compromissos éticos com a vida.
Enfim as
tintas voaram, a conversa rolou, a tela foi limpa, a pressão retirada, os gases
se espalharam nas telas, preenchendo a sala e invadindo as pessoas. Estava
feito e tinha dado certo